Alckmin aponta facada em Bolsonaro como vilã de sua derrota
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) considera que a facada sofrida por Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha eleitoral de 2018 como fator central para sua derrota, a pior já sofrida por um tucano em disputa pela Presidência.
"A campanha começou com o PT se vitimizando e acabou com
ele [Bolsonaro] se vitimizando até o fim", afirmou o tucano. "Eu
estava subindo e ele, caindo. Só no dia da facada, ele teve 22 minutos de
Jornal Nacional", disse, quando o adversário sofreu
o atentado em Juiz de Fora, em 6 de setembro.
A rara manifestação pública do ex-governador foi dada
ao responder uma questão em debate promovido pelo Pensamento Nacional das Bases
Empresariais na Fundação Escola de Comércio Álvares
Penteado, em São Paulo. "[A facada] foi o
fato superveniente da eleição", disse ao ser questionado qual havia
sido o "maior empecilho" na disputa.
Naquele ponto em 2018, a corrida eleitoral entrava em
sua segunda semana de propaganda gratuita de rádio e
TV. Alckmin havia amealhado apoio maciço, como oito partidos
unidos ao PSDB e o maior tempo de publicidade, e de fato a facada
em Bolsonaro embaralhou as cartas, já que todos os candidatos
suspenderam suas atividades.
Estrategistas do PSDB, ao avaliar a campanha em que o candidato
ficou em quarto lugar no primeiro turno com 4,76% dos votos, concordam
parcialmente com a avaliação. A facada teve peso central para
eles, mas há dúvidas se o tucano conseguiria convencer um eleitorado
fortemente inclinado à rejeição do sistema político a apoiá-lo.
Alckmin evitou criticar diretamente Bolsonaro. Repetiu
seu bordão atribuído a Santo Antônio de Pádua que já usou para criticar
o desafeto João Doria (PSDB): "Se
não puder falar bem, não diga nada". Instado por um debatedor se
isso valia também para o hoje governador paulista, ele riu e disse que era
"uma casca de banana".
O tucano, que deixará a presidência do PSDB na semana que vem e
será substituído por Bruno Araújo (PE), deputado federal do grupo
de Doria, aproveitou para cutucar o antigo protegido,
lançado por ele na política em 2016. "É um momento de intolerância, mesmo
no meu partido", afirmou.
Ele se referia às críticas a tucanos que integram o movimento
Direitos Já, suprapartidário mas com viés de esquerda, com a participação
de petistas. Ele não vai, contudo, fazer parte do grupo, que visa formular
contrapontos à gestão Bolsonaro. "As pessoas são livres para
conversar. Eu mesmo tive uma audiência com o presidente", disse a
jornalistas após o evento.
Na mesma linha, ele evitou criticar os atos marcados por
apoiadores de Bolsonaro para o domingo (26). "Eu defendo a
liberdade", afirmou, ressaltando ser contra aqueles setores entre os
manifestantes que pregam fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
"Aí, não."
Sobre o presidente, ele criticou a política pró-armas,
afirmando que boa parte da queda no número de homicídios em São Paulo durante
seus mandatos se deve ao desarmamento da população.
"Graças a Deus o governo voltou atrás na questão do fuzil.
Isso iria virar um faroeste, um bangue-bangue. É a polícia armada que
garante a segurança", afirmou sobre a alteração no decreto sobre posse e
porte de armas editado por Bolsonaro, que permitia acesso de cidadãos
comuns a armas de alta potência.
Alckmin afirma que segue na política, mas evitou
dizer se voltaria a se candidatar. "Já ganhei, já perdi",
disse. Ele dá palestras a estudantes e está estudando no Hospital das
Clínicas para voltar a trabalhar na profissão -é anestesista.
"Fiz 2.000 cirurgias antes de entrar na vida pública, mas fiquei 30 anos
afastado", diz.
Fonte: Yahoo Notícias
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